Em tempos de aprovação do código florestal que beneficia a agricultura em detrimento da preservação; de autorização para a construção da usina de Belo Monte sem que 40 itens de prevenção ou compensação de danos, imprescindíveis, sejam desconsiderados antes do início das obras; privatização parcial dos aeroportos brasileiros e; estágio avançado de privatização das rodovias brasileiras e; a preparação, a qualquer preço (leia-se desapropriações suspeitas) para o recebimento dos mega eventos esportivos mundiais de 2014 e 2016, o materialismo histórico de Karl Marx é cada vez mais atual.
Os socialistas estão aqui para lembrar ao mundo que em primeiro lugar devem vir as pessoas e não a produção. As pessoas não podem ser sacrificadas. Nem tipos especiais de pessoas — os espertos, os fortes, os ambiciosos, os belos, aquelas que podem um dia vir a fazer grandes coisas — nem qualquer outra. Especialmente aquelas que são apenas pessoas comuns (...) É delas que trata o socialismo; são elas que o socialismo defende. O futuro do socialismo assenta-se no fato de que continua tão necessário quanto antes, embora os argumentos a seu favor não sejam os mesmos em muitos aspectos. A sua defesa assenta-se no fato de que o capitalismo ainda cria contradições e problemas que não consegue resolver e que gera tanto a desigualdade (que pode ser atenuada através de reformas moderadas) como a desumanidade (que não pode ser atenuada).
Eric Hobsbawn
A epígrafe de Hobsbawn é apropriada para começar estas breves palavras sobre o novo livro de Gaudêncio Frigotto. Não apenas porque o historiador inglês constitui uma das referências permanentes (tácitas ou explícitas) desta obra, mas também porque o seu conteúdo resume três das principais razões que orientam a estimulante reflexão teórica aqui proposta pelo autor do presente volume. Primeiramente, a necessidade de pensar as condições históricas que dão origem à profunda crise que atravessa hoje o capitalismo real, ultrapassando as visões apologéticas e apocalípticas. Em segundo lugar, a opção por realizar essa tarefa partindo de uma reflexão rigorosamente crítica desde a perspectiva do materialismo histórico; um materialismo histórico renovado e capaz de se reformular, ele próprio, à luz do colapso do socialismo soviético e da queda dos regimes comunistas da Europa Oriental. Por último, embora certamente não menos importante, o livro de Frigotto propõe um enorme desafio ético: pensar e compreendera crise do capitalismo desde um renovado enfoque socialista, como forma de contribuir para a construção de uma sociedade democrática e radicalmente igualitaria, fundamentada nos direitos, e que respeite as diferenças, a diversidade; uma sociedade — segundo Hobsbawn — de pessoas comuns, das maiorias, justamente aquelas condenadas pelo mercado a mais absoluta miséria.
(In:http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/338/343
Acesso: 05 Maio 2011; 20h18min)
Acesso: 05 Maio 2011; 20h18min)


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